Pessoas que não têm o que fazer:

sexta-feira, dezembro 17

[...]Porque eu me imaginava mais forte. Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões, é que se ama verdadeiramente. Porque eu, só por ter tido carinho, pensei que amar é fácil. É porque eu não quis o amor solene, sem compreender que a solenidade ritualiza a incompreensão e a transforma em oferenda. E é também porque sempre fui de brigar muito, meu modo é brigando. É porque sempre tento chegar pelo meu modo. É porque ainda não sei ceder. É porque no fundo eu quero amar o que eu amaria - e não o que é. É porque ainda não sou eu mesma, e então o castigo é amar um mundo que não é ele. É também porque eu me ofendo à toa. É porque talvez eu precise que me digam com brutalidade, pois sou muito teimosa. É porque sou muito possessiva e então me foi perguntado com alguma ironia se eu também queria o aquilo para mim.[...] E que eu use o formalismo que me afasta. Porque o formalismo não tem ferido a minha simplicidade, e sim o meu orgulho, pois é pelo orgulho de ter nascido que me sinto tão íntima do mundo, mas este mundo que eu ainda extraí de mim de um grito mudo. Porque ele existe tanto quanto eu, e talvez nem eu nem ele sejamos para ser vistos por nós mesmos, a distância nos iguala. [...]  Talvez eu me ache delicada demais apenas porque não cometi os meus crimes. Só porque contive os meus crimes, eu me acho de amor inocente. [...]Talvez eu tenha que chamar de "mundo" esse meu modo de ser um pouco de tudo. Como posso amar a grandeza do mundo se não posso amar o tamanho de minha natureza? Enquanto eu imaginar que "Deus" é bom só porque eu sou ruim, não estarei amando a nada: será apenas o meu modo de me acusar. Eu, que sem nem ao menos ter me percorrido toda, já escolhi amar o meu contrário, e ao meu contrário quero chamar de Deus. Eu, que jamais me habituarei a mim, estava querendo que o mundo não me escadalizasse. Porque eu, que de mim só consegui foi me submeter a mim mesma, pois sou tão mais inexorável do que eu, eu estava querendo me compensar de mim mesma com uma terra menos violenta que eu. Porque enquanto eu amar a um Deus só porque não me quero, serei um dado marcado, e o jogo de minha vida maior não se fará. Enquanto eu inventar Deus, Ele não existe.


"Perdoando Deus" - Clarice Lispector. Adaptado para se encaixar melhor ao que sinto.

segunda-feira, dezembro 13

Fruto do olhar.


Vejo euforia em seus olhos, aqueles olhos que também pertencem-me em nossos momentos a sós, voltados a mim, que mapeiam, falam, mostram, brilham e em noites em que sou falha, sangram a mostrar que o que é recíproco tem de ser belo, aproveitado e jamais escondido.
Por noites já me deixei sangrar também. Perdida dentre pedaços de papel tentando descrever meus sentimentos que não me permitem dormir: a prova de que meu amor é puro e ingênuo, e meus olhos, sensíveis.
Olhos estes que veem no momento certo, a imagem envolvente que satisfaz, recupera, provoca e acelera batimentos cardíacos. Ah! E em pensar sorrindo que agora possuo duas frequencias cardiacas, sendo que esta segunda virá a ser o motivo de muitos sorrisos futuros, já me sinto mais segura. Terei você definitivamente em sangue, em alma, para toda a vida. Sorrisos e olhares originados do nosso amor convertido em desejo da carne onde os olhos se tocam. E assim, nascerá nosso amor eterno, unindo-nos para toda uma vida em sangue, o FRUTO.


I've got two hearts beating inside me.

quinta-feira, dezembro 9

Nós.



Vejo tudo enevoado. Consequência da paixão, que embora o amor, ainda é existente e não abre mão de cegar, ensurdecer e calar. Por sorte, não preciso tanto desses sentidos para me oprimir, me basta que seus olhos permaneçam fundados nos meus e que distância que separa o toque das mãos, não mais exista, pois não sei mais o que fazer sem o seu amor a alimentar-me os dias, ter o seu sorriso aberto aos fins de semana a entrar-me pelo coração por vezes me parece suficiente, mas na realidade eu nem sei como é que chego ao fim do dia sem estar enroscada no sofá a ver filmes ou a ler livros, em plena melancolia, não sei como agüento tanto tempo sem sua presença e seu conforto. Deve ser que sei que tempo passa depressa, e que a cada novo sol, menos tempo resta para nosso encontro de olhares.
O tempo é a coisa mais relativa do mundo. Essa vida parece até que vai mais depressa do que nós, parece que os dias comem uns aos outros. E é em alguns desses dias, que o amor fala mais alto e nos faz ver, ouvir e falar demasiado, fato que já nos arrancou lágrimas das entranhas. Lágrimas que ardem no peito e no orgulho, mas que pouco a pouco morrem sem deixar vestigios. O amor elimina. Provoca mas também elimina, e quando os olhos não mais puderem ver o que não existe, quando tudo estiver enevoado, sentirei-me a pessoa mais completa e feliz. Verei o que realmente existe, de fato: eu, você e o nosso amor, fértil.

quarta-feira, dezembro 8

O primeiro beijo

Uma tarde calorosa dentre tantas frias, e poderia até ser uma tarde comum, se não fosse o fato de ter sido ela que fertilizou nossas almas.
Eu não poderia ver, naquela tarde, o que seus olhos hoje me mostram, não poderia ler suas diversas expressões e não poderia saber o que seus lábios queriam pronunciar, mas poderia sentir, sentir minhas pernas trêmulas diante de ti, minha pele clamando pela sua, e lentamente... o desejo de me aproximar foi inevitável, queria tocar-lhe a pele e embalar-te em meus braços, mas recuei, recuei por pensar em diversos motivos que me fariam conter o desejo da carne que eu permiti existir, transparecendo que meus atos não poderiam ser vistos como corretos.
Aquela cama, que ainda não possuia nossos aromas misturados, mas tinha eu, você e a prova de que agora tudo faz sentido: os seus primeiros cuidados para com minha pessoa. E deste ato que resultou, o primeiro carinho, o primeiro sentimento de medo, o primeiro toque das mãos e o primeiro beijo...
Aquele primeiro beijo foi o que nos uniu em corpo e deu inicio a nossa união em alma que aconteceria futuramente. O nosso primeiro beijo, que me fez sentir uma garota inexperiente diante do amor, ainda oculto. Foi a escolha que me trouxe até você, e que até hoje me tira de mim e me leva a outros lugares até então inexplorados.